A pouco menos de quatro meses dos Jogos, quatro das 14 vagas estão totalmente indefinidas e dois medalhistas olímpicos e um campeão mundial podem se dar mal

O torcedor brasileiro já sabe. Voltar os olhos para o judô nas Olimpíadas é uma grande oportunidade de ver o país subindo ao pódio. Os números comprovam: a seleção brasileira conquistou 19 medalhas na história olímpica (apenas uma atrás do vôlei/vôlei de praia), sendo ao menos uma nas últimas oito edições dos Jogos – foram quatro láureas (um ouro e três bronzes) em Londres 2012. A Confederação Brasileira de Judô (CBJ) projeta a conquista de até seis medalhas nos tatames cariocas. Por conta disso, o processo para definir os lutadores que representarão o Brasil no Rio 2016 vem pegando fogo. Em três das 14 categorias de peso (sete no masculino e sete no feminino), a disputa é ferrenha. Tem até dois medalhistas olímpicos (Rafael Silva e Felipe Kitadai) e um dono de título mundial (Luciano Corrêa) correndo risco de não serem convocados, pois seus rivais na corrida olímpica atravessam momentos muito bons.

Baseada principalmente no ranking mundial, a lista final será divulgada pela CBJ no dia 1º de junho. Até lá, os brasileiros disputarão pelo menos três competições para somarem pontos preciosos: o Campeonato Pan-Americano de Havana, entre 29 de abril a 1º de maio, o Grand Slam de Baku, no Azerbaijão, de 6 a 8 de maio, e o Grand Prix de Almaty, no Cazaquistão, de 13 a 15 de maio. Os 16 melhores do ranking mundial também poderão disputar o World Masters, em Guadalajara (MEX), entre 27 e 29 de maio.

– A equipe brasileira para o Rio 2106 está longe de ser totalmente definida. Em algumas categorias, a disputa pela vaga está muito grande e só vai chegar ao fim perto da convocação, em junho. São brigas de alto nível que mostram a força do judô brasileiro. Vai ser chamado quem estiver vivendo um melhor momento, o que é bom para o Brasil – disse o ex-judoca Flávio Canto, medalhista olímpico de bronze em Atenas 2004 e membro do Time de Ouro de comentaristas da TV Globo para os Jogos do Rio.

Confiante em uma participação histórica do judô brasileiro no Rio 2016, Flávio acredita que as sete vagas femininas estão definidas. Porém, na equipe masculina as brigas estão acirradas e indefinidas em quatro das sete categorias: no peso-ligeiro (60kg), entre Felipe Kitadai e Eric Takabatake, no peso-leve (73kg), entre Alex Pombo e Marcelo Contini, no peso-meio-pesado (100kg), entre Luciano Corrêa e Rafael Buzacarini, e a maior delas, do peso-pesado (acima de 100kg), envolvendo Rafael Silva e David Moura. Os dois últimos inclusive se enfrentaram no último fim de semana, na disputa do bronze no Grand Prix de Samsun (TUR), e o medalhista olímpico obteve relevante triunfo.

Sarah Menezes e Rafaela Silva nos Jogos Mundiais Militares (Foto: Johnson Barros/Ministério da Defesa)Sarah Menezes e Rafaela Silva são grandes esperanças no Rio 2016 (Foto: Johnson Barros/Ministério da Defesa)

De acordo com Canto, apresentador do Balada Olímpica, a seleção feminina será a grande fonte de medalhas para o Brasil. Ele acredita que cinco das sete judocas têm grandes chances de subirem ao pódio no Rio: a atual campeã olímpica do peso-ligeiro (48kg), Sarah Menezes, Érika Miranda (52kg), Rafaela Silva (57kg), Mayra Aguiar (78kg) e Maria Suelen Altheman (acima de 78kg).

– A minha previsão é de três medalhas das meninas, com viés de alta, e de uma para o homens, também com viés de alta. A seleção feminina é muito forte. A Sarah cresceu na hora certa após um 2015 ruim, ganhou lutas importantes, medalhas e vai chegar bem. A Érika é a brasileira mais consistente nos últimos anos, ela ganhou medalha nos três últimos mundiais. Assim como a Sarah, a Rafaela também cresceu neste ano, venceu bem o Grand Prix de Tibilisi, cresceu na luta de chão e vai estar forte. A Mayra é uma das melhores da categoria faz tempo e ganhou muito bem o Grand Slam de Paris neste ano, vencendo a campeã olímpica. E a Suelen voltou de lesão ganhando de todo mundo, inclusive a número 1 e a número 2 do mundo. Elas vão brigar por medalha.

vagas definidas segundo flávio canto

Peso-ligeiro (48kg): Sarah Menezes
Peso-meio-leve (52kg): Érika Miranda
Peso-meio-leve (66kg): Charles Chibana
Peso-leve (57kg): Rafaela Silva
Peso-meio-médio (63kg): Mariana Silva
Peso-meio-médio (81kg): Victor Penalber
Peso-médio (70kg): Maria Portela
Peso-médio (90kg): Tiago Camilo
Peso-meio-pesado (78kg): Maya Aguiar
Peso-pesado (acima de 78kg): Maria Suelen Altheman

vagas indefinidas segundo flávio canto

Peso-ligeiro (60kg): Felipe Kitadai (14º do ranking mundial) x Eric Takabatake (15º)
– Bronze em Londres 2012, Kitadai teve uma lesão em uma hora ruim, no início deste ano. Assim, os dois estão bem perto no ranking mundial e a disputa está bastante equilibrada. O Kitadai recuperou o status de potencial medalhista olímpico depois do quinto lugar no Mundial do ano passado. O Eric é novo e está indo muito bem. Quem for, vai ter chance de medalha. Essa definição vai ficar para as últimas competições.O Pan de Havana, com os dois presentes, pode fazer a diferença.

"Máquina de ippons", Felipe Kitadai (60kg) derrotou o compatriota Eric Takabatake  na final (Foto: Reprodução/Twitter)Medalhista olímpico, Felipe Kitadai (à esquerda) disputa vaga com Eric Takabatake (Foto: Reprodução/Twitter)

Peso-leve (73kg): Alex Pombo (20º) x Marcelo Contini (37º)
– O peso-leve masculino tem uma boa disputa pela vaga, mas os dois não estão muito bem ranqueados. Não sei quem vai levar. O Alex vai disputar o Pan de Havana e pode abrir boa vantagem caso se dê bem.

Peso-meio-pesado (100kg): Luciano Correa (22º) x Rafael Buzacarini (23º)
– Está complicada a definição dessa categoria. O Luciano vai para o Pan, mas os dois devem disputar o Grand Slam e o Grand Prix programados até a convocação. O Luciano é experiente, foi campeão mundial (2007) e disputou as duas últimas Olimpíadas, e o Rafael é mais jovem, está crescendo, tem potencial e ganhou prata no Grand Prix de Samsun, no último fim de semana. Vai ser uma categoria para ser definida no final.

Peso-pesado (acima de 100kg): Rafael Silva (9º) x David Moura (12º)
– Essa é a briga mais complicada e de mais alto nível. Quem for convocado vai lutar por medalha olímpica. O David estava melhor que o Baby até o começo deste ano, mas o Baby passou à frente dele ao ganhar várias medalhas. Eles se enfrentaram na final do Grand Prix de Samsun, no último fim de semana, e o Baby ganhou. O David é um cara que vem crescendo, é muito técnico e tem um espaço para uma grande evolução. Medalhista olímpico, o Baby tem judô estabelecido e histórico de medalhas em todas as grandes competição. Aparentemente, eles vão fazer a final do Pan de Havana. São os favoritos. No Pan passado, o David ganhou. Se ele ganhar esse Pan, ele equilibra de novo a disputa. Os dois vão estar no Masters pelos resultados que eles têm conquistado. Eles podem se enfrentar algumas vezes até as Olimpíadas.

Rafael Silva vence David Moura no GP de Samsun (Foto: Reprodução / Twitter)Rafael Silva celebra vitória sobre David Moura na disputa do bronze, na Turquia, no domingo (Foto: Reprodução / Twitter)
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